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23 fevereiro 2011

A Soberania Humana

Nas igrejas presbiterianas é muito comum uma grande ênfase na doutrina da Soberania de Deus. Isso faz sentido, pois o sistema presbiteriano depende dessa doutrina mesmo! O culto, por exemplo, em decorrência da doutrina da Soberania de Deus, é ensinado nos símbolos de fé da Igreja Presbiteriana como um serviço de adoração e reverência que deve ser prestado conforme as prescrições divinas e não humanas, porque Deus é soberano. No entanto, quero falar agora sobre outro tipo de soberania: a humana.
Anthony Hoekema, em seu livro "Criados à Imagem de Deus" (Editora Cultura Cristã, p. 16), fala do homem como absolutamente dependente de Deus, como criatura. No entanto, ele também fala do homem como desfrutando de certa autonomia como pessoa. A soberania humana existe justamente pelo fato do homem ter sido criado à imagem de Deus, como pessoa, um ser responsável e dotado de volição, mente e emoções. Jamais a Escritura tratou do homem como isento de responsabilidade pelo fato de Deus ser soberano sobre tudo e todos. A isto chamamos de compatibilismo; a saber, a coexistência tanto da realidade da soberania de Deus, como da realidade da responsabilidade humana. As duas coisas parecem não se cruzar, mas com certeza existem paralelamente, num mistério intrigante. O homem age da maneira que age porque Deus determinou que ele agisse assim; no entanto, o homem age livremente, dentro de uma liberdade que chamamos de livre-agência, ou seja, liberdade de agir apenas de acordo com a sua natureza, sendo responsável pelas conseqüências de sua ação (1Rs 14.7-11; 15.25-30; 16.1-13 - note que Deus ordenou os atos descritos, os agentes executaram o decreto, mas foram responsabilizados por suas ações).
A soberania de um indivíduo é a esfera onde é conveniente a sua atuação como um ser pessoal e responsável, de acordo com seus deveres éticos e morais diante de Deus e do próximo. Por exemplo, a educação dos filhos é um assunto da soberania dos pais. Eles têm responsabilidade sobre os filhos, de influenciar, corrigir, sustentar, nutrir e amar. Se um filho deve ir a um lugar ou outro, está dentro da soberania dos pais decidir. Se os filhos devem ganhar um presente ou desfrutar de um passeio, tudo proporcionado pelos pais, depende da vontade deles. Está dentro da soberania deles.
Agora, deixe-me falar de um problema sério. Quando alguém extrapola a esfera de sua responsabilidade e ação ou decisão, esse alguém está em pecado. Há vários pecados relacionados com a distorção da soberania humana. A maledicência, por exemplo, é um pecado relacionado à extrapolação da soberania de quem fala mal do próximo. Ele se vê como soberano sobre quem é vítima de sua maledicência. É por isso que a Escritura afirma: "Quem és tu, que julgas o servo alheio?" (Rm 14.4). Tiago afirma algo semelhante: "Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz" (Tg 4.11). Quem pratica a maledicência se faz juiz do próximo, soberano, sendo que esta soberania não é sua; pertence a Deus!
Outra perversão da soberania humana é manipular uns aos outros. Tem gente que se acha no direito de decidir pelos outros baseado em suas próprias idéias e volição. Não são raros casos de amizades que foram seriamente prejudicadas, senão encerradas, por causa da manipulação de quem achou que o relacionamento alheio não deveria ir adiante. Intrigas, invejas, porfias, divisões, facções, todos esses males possuem alguma relação com essa perversão do que deveria ser a imagem de Deus no homem: a soberania.
O que fazer diante desses fatos? Pedro orienta sobre como cada um deve lidar com a sua soberania: "Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, e fingimentos, e invejas, e toda a maledicência, desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação, se é que já provastes que o Senhor é bom" (1Pe 2.1-3). Aliás, todo o restante do capítulo regula a soberania humana. Pedro fala que devemos nos abster das "concupiscências da carne, as quais combatem contra a alma" (v.11), devemos nos sujeitar "a toda autoridade humana por amor do Senhor" (v.13). Honrar a todos, amar aos irmãos, temer a Deus e honrar ao rei (v.17) são atitudes de negação da extrapolação da soberania humana. Até mesmo a sujeição dos servos à autoridade de seus senhores é agir dentro da sua própria soberania (v.18). Agir dentro de sua própria soberania é entregar todas as demandas nas mãos daquele que julga retamente. Foi isso que Jesus fez, quando se humilhou aqui e, reconhecido em figura humana, agiu dentro de sua soberania humana, como verdadeiro homem, padecendo sob o poder de Pôncio Pilatos (Jo 19.10,11). É precisamente isso que devemos fazer: agir somente dentro da nossa soberania, conforme exemplo de Cristo, de acordo com o que Pedro conclui: "Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas. Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano; sendo injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente; levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados" (vv.21-24).
Se alguém vier falar mal do outro, rejeite o assunto e o encerre. Diga: "me perdoe, mas esse assunto não pertence à minha soberania". Mesmo que pareça só um "comentário", que, na verdade é fofoca ou maledicência mesmo. Vamos agir assim, cada um dentro de sua própria soberania, pois assim teremos uma vida mais feliz e livre de desentendimentos, mal-entendidos, interferências indevidas e manipulação uns dos outros.

Pr. Charles

1 comentários:

Anônimo,  24 de fevereiro de 2011 às 20:06  

PAZ E BEM!


Parabéns pelo texto tão expressivo com simplicidade de quem conhece o que fala.

Pr. Clevis

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