Ensina a criança no caminho que ela deve ouvir, e quando for velha...
Conviveremos com muito do que aprendemos em nossa infância pelo resto de nossas vidas. Cheiros, sabores, brigas e doces, um pouquinho de cada uma das boas e más recordações estará gravado em nossa memória. Mas há dois elementos em nós que são capazes de nos transportar mentalmente a lugares, pessoas e situações numa fração de segundos: nossas “memórias” olfativa e musical. Hoje, quando ouço a música “Eram cem ovelhas”, lembro de uma sala de estar numa casinha de madeira, com assoalhos pintados de vermelho com tinta a óleo (e encerados), uma “Eletrola” tocando um disco de vinil de Luiz de Carvalho, eu, minha irmã e meus pais nos preparando para ir à Escola Dominical. Eu devia ter uns 4 anos de idade. Mas não era só Luiz de Carvalho; também lembro de canções de Oséias de Paula, Edgar Martins, Feliciano Amaral e do grande violonista Dilermando Reis. Calma lá... não sou “dessa época”, apenas ouvia o que meus pais ouviam, e hoje posso sentar em qualquer roda de “sessentões” e fazê-los chorar lembrando dos sucessos de outrora! Eles recordam a mocidade e eu minha infância.
Foi nesse período que também aprendi a gostar de um LP (long play – disco de vinil. Desse jeito vou ter que bolar um glossário para cada post) que projetava algumas silhuetas de gente com baixo, bateria e guitarra em sua capa. Dele, ouvi “Se eu fosse contar o que de alguém ouvi...”. Depois vieram os LPs “De vento em popa” e “Louvor I”, todos do Grupo Vencedores por Cristo, além do “Situações”, do Grupo Logos, do meu querido Paulo César. Mas eu não ouvia apenas isto. Havia em casa vários discos da “Tia Noemi”, que traziam histórias bíblicas e outras boas músicas para crianças.
Sei que minhas filhas estão ouvindo muito do que eu estou. Acho que elas nasceram sabendo alguns choros do Dilermando Reis e do João Pernambuco de tanto que me ouviram treinar e tocar no violão, bem como Cds e MP3s (saímos da era do LP) de Raphael Rabello e outros violonistas maravilhosos. Mas como gostaria que elas também se lembrassem da boa música de João Alexandre, Carlinhos Veiga, Gerson Borges, Stênio Marcius, Edilson Botelho, Charles Melo, Jorge Rehder, Guilherme Kerr, Jorge Camargo, Gladir Cabral, Carlos Sider e de outros ícones da boa música que eu não canso de ouvir e tocar.
Não posso esconder que há em mim um propósito de treinar o bom gosto musical de minhas filhas. Certa vez estava aguardando o concerto de meu carro numa oficina e na casa ao lado um brega com as maiores “pornofonias” era tocado. O chocante foi ver uma criança, naquela casa, com cerca de 4 anos, brincando tranquilamente com um carrinho tendo aquele verdadeiro lixo musical sendo jogado em sua memória. O que será daquela criança?