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19 abril 2011

A Música e a Graça Comum


Um dia desses um dos leitores do Blog me pediu para escrever um artigo sobre a relação da música com a doutrina da graça comum. Achei muito interessante a sugestão, até porque as duas coisas são absolutamente compatíveis. Não dá para falar sobre música sem os pressupostos da doutrina da graça comum. Antes, porém, deixe-me falar um pouco sobre a doutrina para então analisarmos a música sob o seu prisma.

A Doutrina da Graça Comum
            A graça de Deus ou seu favor imerecido, também definida por Gotthold Lessing, filósofo e dramaturgo alemão do século XVIII, como “beleza em movimento”, porque a graça expressa a beleza da bondade de Deus em ação na direção e em benefício do pecador, possui duas faces fundamentais. Ela pode ser tanto a graça especial, porque é destinada a muitos, mas não todos, sem exceção, ou a graça comum, que é destinada a todas as pessoas, sem exceção. No caso da graça especial, ela é salvadora; a graça comum ou graça geral não é salvadora.
            A graça comum se revela na Escritura de duas maneiras distintas: positiva e negativamente. De maneira negativa, a graça comum é a responsável pela restrição ao pecado dos homens. Em Gênesis 3, por exemplo, Deus diz que o seu Espírito não agiria para sempre no homem, porque ele é carnal. Essa ação do Espírito é restringente ao pecado. A prova disso é o fato da maldade piorar depois dessa afirmação divina (cf. Gn 6.11). Outra passagem que demonstra essa restrição ao pecado como ação negativa da graça comum de Deus é a passagem de 2 Timóteo 2.6, que fala de algo que detém a manifestação do homem da iniqüidade. Eu creio, à luz de Gênesis 6, que o que detém a manifestação do homem da iniqüidade é o Espírito Santo.
            A ação positiva da graça comum é que está mais ligada ao assunto “música”. Deus, ao mesmo tempo que faz com a chuva caia sobre justos e injustos indistintamente (Mt 5.45), também habilita o homem a produzir coisas boas, como fruto de sua graça comum (Mt 7.11). A graça comum de Deus é a responsável pelas obras de arte belíssimas do ser humano em geral, inclusive a música e a poesia. A Bíblia diz que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1.17).

O Reflexo da Doutrina na Música e na Prática
            Então podemos afirmar, com toda segurança, que o belo poema de Fernando Brant e Milton Nascimento, a saber, Canção da América, é fruto da graça de Deus sobre a vida deles; não a graça especial, mas a graça comum positiva. Sem dúvida, também a impressionante canção de Flávio Venturini, Vermelho e Márcio Borges, Planeta Sonho, nos faz pensar sobre a realidade de que a Nova Terra será o que não sabemos exatamente, mas será “bem melhor que a canção mais bonita que alguém lembrar”.
Talvez o caro leitor esteja pensando: “por que quebrei todos os meus CDs de música popular quando me converti ao evangelho de Cristo?” Lamento, mas nada disso seria necessário. Na Bíblia vemos exemplos de pessoas que não jogaram fora todo o patrimônio cultural que possuíam antes da conversão, mas antes usaram seu conhecimento de fontes não cristãs para evangelizar. É o caso de Paulo, que discursou no Areópago citando pensadores não cristãos, mas que disseram o que era verdade. Se era verdade, então era de Deus e deveria ser usado para a sua glória (cf Tt 1.12). A graça comum nos municia com armas poderosas para convencer os incrédulos acerca da verdade da Palavra de Deus, estabelecendo pontos de contato.
            Concluindo, não rejeite simplesmente qualquer obra literária ou musical só porque não foi escrita por um cristão. Lembre-se de que a graça comum habilita o homem à produção de boas obras. A referência deve ser sempre a Bíblia. Ela deve ser nossa lente que nos faz enxergar a glória de Deus por trás das coisas boas que os homens fazem ou a incoerência e a inverdade naquilo em que mentem e escarnecem. O padrão seguro não é a confessionalidade de um artista, mas a Palavra de Deus. Poderá muito bem ocorrer de um confessor produzir uma obra musical pérfida e mentirosa. Talvez seja por isso que muitos andam seguindo a falsos profetas. Porque aceitam o que dizem só porque se dizem cristãos, quando na verdade não passam de sofistas falsários.

Pr. Charles

5 comentários:

Anônimo,  19 de abril de 2011 às 22:42  

Aeeeeee ! Saiu o artigo que eu pedi !! rs'

Gostei muito, Pr. Charles.

Bem objetivo, claro e bíblico. Bom mesmo !

Abs.

Heleno Filho 20 de abril de 2011 às 10:57  

Charlão, um tema preciosíssimo, tratado com precisão.

A graça comum está tão presente no mundo que torna impossível se viver nele sem reconhece-la e usufruir dela. Por exemplo, um crente não pode afirmar que não canta ou ouve música "do mundo" e ser coerente, pois teria que assistir um filme mudo e sequer poderia cantar "parabéns pra você", não é?. A solução é aprender a reconhecer a verdade divina onde quer que ela esteja, nas mais diversas representações do cotidiano, e isto (como você já afirmou) sob o crivo das Escrituras.

Abraços, meu querido.

Charles Oliveira 25 de abril de 2011 às 09:06  

Arthur,

Até que enfim saiu. É claro que é um artigo simples, mas que já pode esclarecer que a postura preconceituosa contra a música não cristã não tem base.

Abraço e obrigado pelo comentário!

Charles Oliveira 25 de abril de 2011 às 09:07  

Heleno,

Obrigado! Muito interessante seu exemplo. O cristão nunca pode se esquecer de que crer é também pensar.

Abraço!

Anônimo,  29 de abril de 2011 às 13:21  

Pr. Charles,

Demorou, mas valeu a pena esperar! Gostei muito mesmo.
É bem objetivo, bom pra argumentar rápido com aquelas pessoas que ficam indignadas quando dizemos que ouvimos música "secular".

Abs.

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