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04 abril 2011

JOSÉ ALENCAR – Brevíssimas reflexões sobre a vida e a morte

Após ser perguntado sobre o panorama político da semana, um repórter da “Globo News” afirmou não haver muito o que se dizer, já que naquela semana todo o acontecimento político ficou ofuscado pela morte do ex-vice-Presidente da República José Alencar. Quem foi esse homem que conseguiu tamanha atenção da mídia e da população? É comum que os “vice-alguma-coisa” passem despercebidos nas gestões. José Alencar tinha tudo para ser mais um desses, principalmente por haver sido vice de um presidente com características populistas. Entretanto, resolveu entrelaçar a vida política e a memória da nação brasileira com a de sua história.



Quero compartilhar algumas brevíssimas reflexões acerca do que ouvi e li desse homem nascido em 1931 no Distrito de Itamuri, a 17 km da cidade de Muriaé, no interior de Minas Gerais, que se tornou vice-presidente da República em 2003 e que se tornou um dos maiores industriais do ramo têxtil do país.



1. Refleti um pouco mais sobre a lealdade


Na ocasião do “mensalão”, o maior escândalo do governo Lula, perguntaram a José Alencar se ele estaria pronto para assumir a vice-presidência, caso o presidente Lula sofresse um impeachment. Ele respondeu que ele havia “entrado” na presidência com o Lula e sairia de lá com ele. Afirmou noutra ocasião: “Tenho consciência de que só sou vice-presidente graças a Lula. As pessoas não votam no vice, votam no candidato a presidente.”



O fato acima foi descrito por um repórter que o ouviu numa conversa durante as homenagens fúnebres de José Alencar, em Brasília. Não sei se Alencar não sabia de nada ou se era conivente com o erro de Lula e seus comparsas, mas nesse jogo político seria comum que um vice torcesse pela queda do chefe da nação para que ele assumisse seu lugar. É surpreendente saber que esse mineiro tenha tido uma atitude dessas num ambiente político.



2. Refleti um pouco mais sobre respeito ao próximo


Todos lembram que José Alencar foi vaiado numa conferência do PT. Diante das vaias ele disse que respeitaria a liberdade que eles tinham de fazer aquela manifestação, já que estavam numa democracia. Após isto, as palmas se elevaram e encobriram as vaias.



Posso imaginar a frustração daqueles manifestantes. Dizendo o que disse, deixou claro que eles (os manifestantes) o estavam privando da liberdade de se expressar, e que ele jamais se igualaria a eles. Ensinou ainda a grandeza de se dominar tendo um microfone nas mãos, diante de moleques que se achavam no direito de lhe cercear a palavra e tentar lhe ridicularizar.



3. Refleti um pouco mais sobre não ficar em cima do muro


Diante da política de juros altos defendidos pelo presidente Lula e por toda equipe econômica do Governo, José Alencar não ficou em cima do muro, nem fugiu ao debate: “Queremos que as pessoas estejam sempre em condições de consumir e comprar o que precisam. Para isso, as taxas de juros precisam cair. O consumidor não pode ficar pagando essa taxa que paga. Isso atrapalha o desenvolvimento do país.” É possível ser leal, continuar num time, mesmo que existam pontos divergentes que não interferirão no todo do plano.



Ele não fazia essas declarações para chatear o Ministro da Fazenda, o Presidente Lula ou ainda para desestabilizar o Governo. Falava porque não tinha medo de expor sua opinião. Falava porque tinha maturidade para respeitar os que discordavam dele.



4. Refleti um pouco mais sobre a morte diante da vida


Esse homem não lutou contra um, mas contra vários cânceres. Foram mais de 18 cirurgias. Ele fez o que estava ao seu alcance para continuar vivendo, sempre com um bom humor inquietante. Nunca se rendeu ou entregou-se à doença. Sua mente ágil, jovem e perspicaz o impelia à vida. E assim ele lutou contra a morte porque tinha vontade de continuar vivo.



Quando homenageado no dia 25 de janeiro deste ano pela prefeitura de São Paulo, afirmou: “O período longo em que fiquei inativo me trouxe essa dificuldade de locomoção. Estou fazendo fisioterapia e estou melhorando. [...] Não posso me queixar, mas tenho de fazer a minha parte. Estou lutando para não morrer e estamos vencendo com a força de Deus. E seja qual for o resultado, será uma vitória nossa.”



5. Refleti um pouco mais sobre a vida diante da morte


O tema da morte esteve em todas as suas entrevistas recentes. Sempre o abordou com a serenidade e o equilíbrio de um homem que tinha certeza que já havia cumprido o que viera fazer neste mundo: “Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele.”



“Se Deus quiser me levar, ele não precisa de câncer pra isso.” Como se diz no senso comum: “para morrer, basta estar vivo”. Ninguém sabe o dia que vai morrer, por isto, “basta ao dia o seu próprio mal.” – Mateus 6.34b. E por que temer a morte? Temos que amar a vida, mas saber que a morte é algo com o qual sempre vamos nos deparar até o dia em que habitaremos eternamente com o Senhor.



6. Refleti um pouco mais sobre a soberania de Deus


Alencar deve ter deixado os teólogos do Teísmo Aberto (ou da Teologia Relacional) perplexos ao afirmar não ter dúvidas que Deus havia lhe dado o câncer. Eu o vi afirmar isto numa entrevista no “Estudio i”, programa da “Globo News”. Disse saber que Deus havia feito isto para lhe tornar mais humilde.



Sua saúde podia não ser das melhores, mas seu sensus divinatis estava funcionando bem! Ele sempre colocava Deus no comando de tudo da enfermidade que o estava consumindo, sem queixas ou lamúrias. Suas convicções eram mais bíblicas que de muito teólogo relacional por aí.



O que aconteceu com José Alencar após a morte é de competência de Deus, não minha. Espero que ele tenha ouvido o evangelho da salvação em Cristo Jesus e que tenha encontrado Nele a reconciliação com seu Criador. O que sei é que os elementos de sua vida aqui destacados estão em consonância com os princípios das Escrituras e servem de exemplo e exortação por serem expressão da verdade eterna de Deus. Como afirmou João Calvino nas Intitutas 2.2.15: "Se reconhecermos o Espírito de Deus por única fonte e manancial da verdade, não descartemos ou menosprezemos a verdade onde quer que a encontremos". Desta forma, todo destaque honroso da vida de José Alencar redundará em glória ao Senhor, por isto ser testemunha da graça comum presente no mundo.



José Alencar morreu no dia 29 de março, aos 79 anos. Suas homenagens fúnebres seguiram o protocolo das de um Chefe de Estado. Foi-se mais um homem que não passou em branco em sua geração. Fez-se real seu desejo mais profundo: “O homem honrado não morre nunca.”


Heleno Filho

2 comentários:

Charles Oliveira 5 de abril de 2011 às 09:41  

Heleno,

Muito apropriada sua postagem. Nosso ex-vice-presidente disse certa vez que ele não queria se esquecer de que sua enfermidade era providência de Deus em sua vida.

Abraço!

Heleno Filho 6 de abril de 2011 às 10:48  

Valeu, Charlão. Várias declarações do velhinho são mais condizentes com as Escrituras que muitas que se tem visto no "meio evangélico".

Abraços!

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