CUIDADO COM A FUGA DA MÚSICA
"Uma fuga é uma peça de música
inteiramente concebida em contraponto, e onde tudo se interliga, direta ou
indiretamente, a um motivo inicial denominado sujeito; dessas ligações resulta a unidade da obra; a variedade
é obtida por meio das modulações e das diversas combinações em cânone ou em
imitação. As vozes parecem, então, se perseguir, ou fugir umas das outras,
donde a etimologia da palavra: fuga
(de "fugir"). (Lavignac, Albert. La musique et les musiciens. 11a ed. Paris:
Delagrave, s.d. p.389)
J.S. Bach (1655 - 1750)
foi um dos compositores que se dedicou às fugas. Suas músicas contrapontísticas
figuram entre as mais belas artes concebidas pelo homem. Mas esta postagem não
tratará das fugas maravilhosas de
Bach, mas da fuga como um movimento
da música em direção oposta ao músico. Isso é possível? Infelizmente, sim.
Tive o
privilégio e a honra de tocar com muitos músicos bons. Aprendi e ainda aprendo
muitas técnicas e dicas musicais com eles. De alguns me tornei “tiete”.
Entretanto, quando minha mente saudosa recorre às “minhas primeiras notas ao
violão”, lembro dos primeiros músicos que admirei e imitei muitas vezes. Sim,
que sei de violão não aprendi de professores num curso formal. Mas isso se deu
fortuitamente. Entre os meus 11 ou 12 anos de idade, eu não sabia da existência
de bons professores em Manaus (infelizmente, não pude ser aluno do lendário
Adelson Santos), mesmo assim me esforçava a olhar cada nota, pedir que eles
cifrassem cada música (por incrível que pareça para alguns, na época não havia “crifranet”
– talvez um grande bem?) e ouvir música de qualidade.
Lembro da admiração que nutria pelos músicos de minha igreja quando eu comecei a dedilhar as cordas de meu violão. Pedi-lhes algumas vezes que me ensinassem não apenas as músicas do cancioneiro da
igreja mas também algumas introduções de violão que eu costumava ouvir nos Lps dos
Vencedores por Cristo. Como eu fiquei feliz quando toquei a "introdução"
de “Você pode ter” e “Presente século”, ambas do Lp “Tanto Amor”! E o que dizer
da belíssima introdução de “A Roseira”, do Lp “De vento em Popa”? Muitos deles,
pacientemente me ensinavam as posições dos dedos no braço do violão e meu
sorriso se estendia à medida em que minha sonoridade se assemelhava à que estava tocando no Lp! Eu me imaginava como o próprio violonista que havia gravando no
estúdio.
Infelizmente
muitos desses meus heróis estão hoje divorciados da música. Alguns até sob a
alegação de que se “aposentaram” porque tocar é coisa para os jovens. Pasmem!
Num desses momentos de “aula” com um deles – talvez nesses ensaios de cânticos
para o culto de domingo à noite – ouvi um sábio conselho de um deles: “Nunca abandone a música; se o fizer, ela o
abandonará!” Infelizmente aquelas palavras se tornaram juízo sobre quem as disse.
De fato a música se lançou em fuga
para longe dele. E como esse amigo, me vem à memória o nome de muitos outros.
Quase posso mencionar o nome deles. Parceiros de tantas cumplicidades musicais.
Hoje só me resta lamentar por eles...
Heleno Guedes Montenegro Filho
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